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Resenha #199: Quem tem medo do feminismo negro?


Título: Quem tem medo do feminismo negro?
AutoraDjamila Ribeiro
Editora: Companhia das Letras
Nº de Páginas: 148
Quem tem medo do feminismo negro? reúne um longo ensaio autobiográfico inédito e uma seleção de artigos publicados por Djamila Ribeiro no blog da revista CartaCapital, entre 2014 e 2017. No texto de abertura, a filósofa e militante recupera memórias de seus anos de infância e adolescência para discutir o que chama de “silenciamento”, processo de apagamento da personalidade por que passou e que é um dos muitos resultados perniciosos da discriminação. Foi apenas no final da adolescência, ao trabalhar na Casa de Cultura da Mulher Negra, que Djamila entrou em contato com autoras que a fizeram ter orgulho de suas raízes e não mais querer se manter invisível. Desde então, o diálogo com autoras como Chimamanda Ngozi Adichie, bell hooks, Sueli Carneiro, Alice Walker, Toni Morrison e Conceição Evaristo é uma constante.Muitos textos reagem a situações do cotidiano — o aumento da intolerância às religiões de matriz africana; os ataques a celebridades como Maju ou Serena Williams – a partir das quais Djamila destrincha conceitos como empoderamento feminino ou interseccionalidade. Ela também aborda temas como os limites da mobilização nas redes sociais, as políticas de cotas raciais e as origens do feminismo negro nos Estados Unidos e no Brasil, além de discutir a obra de autoras de referência para o feminismo, como Simone de Beauvoir.
Olá pessoal, tudo bom com vocês? Há algum tempo comecei a estudar mais sobre o feminismo para passar a entender de fato a nossa sociedade e a necessidade real do mesmo para nós mulheres. Não sou especialista no assunto (longe disso), mas acho que a melhor arma contra a ignorância e preconceito é o conhecimento, portanto, sempre que esbarro em algo dentro do feminismo que desconheço, busco saber um pouco sobre. Foi assim que acabei descobrindo o livro “Quem tem medo do feminismo negro?”, que me tirou da minha zona de conforto e me fez entender um pouco sobre uma temática que eu francamente não entendia muito. Vamos conversar um pouco sobre ele?
 Confesso que quando ouvi falar a primeira vez em feminismo negro, questionei sua necessidade. Eu, em minha humilde ignorância, não entendia o motivo de se fragmentar o feminismo, que por si só já é mal visto erroneamente por muitas mulheres e pela sociedade no geral.

Por não entender, eu resolvi ler sobre e foi aí que me deparei com este livro, que é um compilado de vários textos publicados no blog da Carta Capital, escritos pela filosofa e autora Djamila Ribeiro, no período de 2015 a 2017, onde a mesma fala abertamente sobre o assunto, em meio a situações que ocorrem no cotidiano e que muitas vezes não percebemos o quão problemáticas e ultrajantes são, por não nos afetarem diretamente ou até mesmo pela cultura em que somos criados, que muitas vezes é misógina, machista e repleta de um ‘humor’ que fere. Além destes textos, a edição ainda conta com uma introdução onde a autora fala um pouco sobre sua trajetória de vida, sobre sua percepção do feminismo e da importância do feminismo negro para sua vida.

O feminismo negro é a designação utilizada para nomear o movimento de mulheres atuantes tanto na esfera da discussão de gênero quanto na luta anti-racista.

É através desse relato inicial que Djamila nos mostra por meio de suas memórias afetivas como foi o processo de percepção e compreensão do racismo que sempre existiu em sua realidade e a forma como ela se empoderou e se fortaleceu para travar uma batalha tão difícil contra desigualdades.

A sensação de não pertencimento era constante e me machucava, ainda que eu jamais comentasse a respeito. Até que um dia, num processo lento e doloroso, comecei a despertar para o entendimento. Compreendi que existia uma máscara calando não só minha voz, mas minha existência.
Por meio desses relatos e dos mais diversos textos que englobam acontecimentos nacionais e mundiais, que percebemos a necessidade do feminismo negro, vez que apesar de todas as mulheres estarem sendo subjugadas por uma sociedade patriarcal e necessitarem desta luta por direitos iguais, as mulheres negras ainda tem que lutar contra uma opressão racial que muitas mulheres brancas desconhecem.

Só então compreendi porque muitas vezes eu não me identificava com um feminismo dito universal: porque as especificidades de mulheres negras não eram consideradas.

Muitas meninas negras passam por um processo de apagamento da personalidade, como aconteceu com a própria Djamila, onde acabam renegando suas origens, sua aparência, tudo em razão de um padrão errôneo e irreal estabelecido por uma sociedade que julga cabelos crespos, que hipersexualismo mulheres negras e que raramente colocam como protagonistas de novelas mulheres negras que possam ser uma referência para essas garotas que estão começando a construir sua personalidade.

A vontade de ser aceita nesse mundo de padrões eurocêntricos é tanta que você literalmente se machuca para não ser a neguinha de cabelo duro que ninguém quer.

Você com toda certeza conhece alguma garota que alisou o cabelo muito nova para tentar se enturmar, já que é o cabelo liso que é visto como bonito, aceitável. Provavelmente essa menina já ouviu diversas piadas sobre o volume e a textura de seu cabelo. Muitas meninas crescem ouvindo 'piadas' sobre o tom de sua pele, sobre escravidão relacionando-as a mesma. Ao procurarem referências, essas meninas não costumam encontra-las em novelas e programas de TV aberta, por exemplo. Muitas vezes todas essas coisas são vistas como meras piadas ou bobagens, ignorando-se o fato de que muitas meninas mudam o que elas são não por si mesmas e sim para se adequarem a uma sociedade e isso é muito perigoso. Abrir mão de sua identidade, de quem você é por causa de preconceito é algo inaceitável e que ainda acontece muito em nossa sociedade.

Através do compilado de textos presentes neste livro, você percebe a necessidade sim do feminismo negro, vez que além de todo machismo e desigualdade social existente entre homens e mulheres em nossa sociedade, soma-se a realidade das mulheres negras o racismo.

Este foi um livro que abriu meus olhos para diversas situações em nossa sociedade que precisam de fato ser problematizadas e me mostrou também uma realidade que não conheço a fundo e não vivencio. Esta foi uma leitura esclarecedora e engrandecedora e por isso a recomendo hoje a todos vocês.

Abram a mente e deem uma chance a esta leitura. Aprendam um pouco mais sobre o feminismo, sobre o feminismo negro e sua importância em nosso meio social. Digo e repito: a melhor arma contra a ignorância e preconceito é o conhecimento. Se dê uma chance de conhecer e compreender um pouco uma realidade que talvez você não vivencie, mas que mudará seu modo de ver várias coisas ao seu redor. Expandir nossos horizontes e conhecimentos é sempre algo extremamente válido.

Espero que tenham gostado da resenha de hoje! Não deixem de comentar ok? Beijos e até o próximo post!

8 comentários:

  1. Olá!
    Já vi bons comentários sobre essa leitura em outras resenhas de amigos blogueiros e confesso que tenho muita curiosidade em realizar a leitura. Por abordar temas tão necessários que facilitam nossa compreensão, além de ser curtinho, acredito que seja um livro divisor de águas para muitos que se deixam envolver pelas palavras da Djamila.
    Beijos!

    Camila de Moraes

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  2. Olá!
    Quero muito ler esse livro! Já vi algumas entrevistas da Djamila e ela me inspira com seu discurso sobre o feminismo negro. Como uma mulher negra, vejo que há coisas que alguns consideram bobas, mas esse negócio da representatividade de pessoas negras na TV é extremamente importante e transformador. Eu mesma acredito que só comecei a gostar da minha própria aparência quando passei a ver Taís Araújo com papéis importantes na TV. Sua resenha está linda e muito inspiradora. Parabéns! Beijos!

    Jéssica Martins
    castelodoimaginario.blogspot.com

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  3. Olá!
    Não conhecia os textos da Djamila, mas esse livro deveria ser uma leitura obrigatória para todos compreenderem de uma vez por todas porque o feminismo é importante e ainda impulsionar a luta contra o racismo. Achei brilhante o título do livro e o assunto abordado, realmente eu nunca tinha pensado nesse ponto de vista. Parabéns!
    Bjos
    Lucy - Por essas páginas

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  4. Olá, gostei muito da sua resenha! Você fez o que todos deveriam fazer: pesquisar sobre o assunto que não conhece para entendê-lo realmente. É uma leitura que quero fazer, pois conhecimento nunca é demais; acompanho a autora pelas redes sociais e sua obra é muito importante.

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  5. Oi!
    Primeiro, tenho que dizer que adorei a sua resenha. Além de muito bem escrita, você foi atrás de conhecer uma realidade que no nosso caso, não nos atinge.
    Sou feminista e acho o movimento extremamente importante. Por causa de casos extremos, é um movimento mal visto por muita gente. Mas acredito que não se pode tirar a importância por causa de alguns exemplos.
    Como a realidade da Djamila não é a mesma que a minha, muitas vezes a gente só olha para os nossos problemas, por isso que acho importante importante esse foco no feminismo negro.
    Ela se formou na minha faculdade e também dá aula lá. Estou doida para conseguir pegar uma com ela.
    Bjss

    http://umolhardeestrangeiro.blogspot.com/

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  6. Ola!!

    Antes de falar qualquer coisa sobre o livro eu tenho que lhe desejar os meus sinceros parabens! Você arrasou nessa resenha!
    Não conhecia o livro, achei a temática bem diferente e tive a mesma sensação que você ao ler o título do mesmo. Confesso que não sou uma conhecedora nada sobre o tema e meio que evito esse tipo de assunto, não que seja contra e nem a favor, mas sou uma pessoa que prefere fugir dos paradigmas e das nomenclaturas, sabe?
    Apesar de ser o tipo de livro que eu não me identifico, você aguçou a minha curiosidade para a historia!

    beijos,
    http://www.livrosetalgroup.blogspot.com.br

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  7. Eu fico feliz demais em ver pessoas brancas reconhecendo seus privilegios e entendendo como o recorte racial em diversas questões é importante, como no caso do feminismo. Djamila é uma mulher maravilhosa!

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  8. Eu tenho acompanhado o trabalho da Djamila tem um tempo já e a forma como ela está usando a sua inteligencia para inspirar as mulheres, é incrível. Li este livro na época do lançamento e fiquei bem impressionada. Seus comentários sobre ele só me fizeram ama-lo ainda mais.
    Adorei a resenha
    beijos

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Pollyanna Campos

Mineira, apaixonada por livros, advogada, viciada em romances de época, séries e café. Ama viajar, ouvir a mesma música, ver os mesmos filmes, reler suas citações literárias favoritas e cuidar de suas plantas.




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