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Resenha #278: Herdeiras do mar

 


Olá pessoal, tudo bom com vocês? No post de hoje vamos conversar um pouquinho sobre Herdeiras do Mar, da Mary Lynn Bracht.



“É nosso dever educar as futuras gerações a respeito das terríveis e reais verdades cometidas durante guerras, não escondê-las ou fingir que nunca aconteceram. Devemos lembra-las para que os erros do passado não se repitam. Livros de história, canções, romances, peças de teatro, filmes e monumentos são essenciais para nos ajudar a nunca esquecer, enquanto também nos ajudam a prosseguir em paz”.

Esse foi um dos livros mais difíceis que já li e não vai ser nem um pouco fácil falar sobre ele. Trata-se de um romance histórico que se passa entre 1943 e 2011, narrado sob o ponto de vista de duas mulheres: Hanna e Emi, que aborda uma temática da segunda guerra desconhecida por muitos, inclusive por mim: as mulheres de consolo.


Abrindo aqui um parêntese histórico, temos aqui um cenário do expansionismo Japonês e ocupação colonial durante a segunda guerra, onde dentre muitas atrocidades cometidas, eles passaram a sequestrar mulheres, escraviza-las, e força-las a trabalhar em bordéis militares japoneses em tempo de guerra.


A “Justificativa” era que mantendo tais bordéis, isso evitaria que eles estuprassem e violassem mulheres nos territórios dominados, o que obviamente não aconteceu.


Essas mulheres que eram sequestradas e obrigadas a se prostituir eram as chamadas “mulheres de consolo”. Historiadores estimam um número entre cinquenta e duzentas mil mulheres coreanas submetidas a essa condição. Daquelas dezenas de milhares de mulheres e garotas escravizadas, apenas quarenta e quatro ainda estavam vivas no ano de 2018.



Por que é importante citar este cenário? Porque Hana, uma de nossas narradoras, aos 16 anos, é sequestrada na tentativa de salvar sua irmã, sendo enviada para Manchuria, sendo transformada em uma mulher de consolo.


Através dessa personagem vemos todos os horrores passados pelas mulheres submetidas a essa condição. Toda dor, humilhação, todas as violações sofridas. A autora aborda essa realidade através da ficção com detalhes, o que torna os capítulos narrados por Hana muito difíceis de serem lidos.


A segunda parte da narrativa é feita por Emi, irmã de Hana, já no ano de 2011. Através de suas memórias, vamos conhecer a realidade da irmã que ficou na ilha de jeju, em um período de guerra, passando por diversos horrores e provações.


Conhecemos o sofrimento de sua família, a forma como todos da ilha sofreram com a invasão dos japoneses e a dor daqueles que tiveram familiares arrancados de seu seio familiar e dos quais muitas vezes nunca mais tiveram notícias. Através da narrativa dessa mulher é possível ver cada uma das marcas, dos traumas deixados pelos horrores vividos.


Apesar das temáticas difíceis e das realidades escancaradas, a autora sempre termina os capítulos deixando um gancho, o que faz com que fiquemos curiosos para continuar a leitura, por mais difícil e dolorosa que seja.


E sim, este é um livro difícil, mas extremamente necessário que merece ser lido. Merece ser lido pela escrita sensacional da autora, por toda trama construída e por escancarar horrores que ocorreram durante a segunda guerra que ainda são desconhecidos por muitos e precisam ser escancarados, explanados. É a única forma de horrores como estes não voltarem a acontecer, não deixando que a história se perca.


E para finalizar queria destacar aqui dois pontos que acho fundamentais. O primeiro são as passeatas de quarta-feira.


Apenas em 1991 a primeira “mulher de consolo” divulgou sua história, o que acabou por encorajar 250 outras mulheres a falar sobre as experiências como escravas sexuais dos soldados japoneses, e passaram a exigir o reconhecimento e as desculpas do governo do Japão. 


À partir daí passam a existir as passeatas de quarta-feira, fato este que é retratado no livro. Foram criadas estátuas retratando também as mulheres de consolo como símbolos, no intuito de que a história não se perdesse.


Inclusive, um fato interessante é que fora colocada uma na frente do consulado japonês, o que foi considerado “ofensivo”’ pelo chanceler sul coreano em 2017.


O Japão quis negociar inclusive para a retirada das estátuas, o que foi considerado por muitos uma tentativa de apagar a história. Outro ponto importante a ser mencionado é que em 08 de janeiro de 2021, sim, apenas desse ano, em uma decisão inédita, o tribunal Sul-coreano determinou que o Japão indenize as mulheres de conforto/consolo, abusadas no período colonial. Enfim, achei interessante mencionar estes fatos.


E para finalizar, quero mencionar uma parte cultural que achei muito interessante do livro que são as haenyeos, mulheres mergulhadoras da ilha de jeju. É uma cultura semi-matriarcal, passada por gerações, onde as mulheres proveem o sustento de suas famílias, através do mergulho feito quase sem nenhum equipamento.


A forma como a autora nos apresenta essa tradição mostra uma conexão tão grande das mulheres com a natureza, a forma como elas sentem a liberdade... é lindo, de verdade. As partes culturais do livro são belíssimas e foi muito interessante poder conhece-la através desse enredo.


- Bem pessoal, tentei passar um pouco para vocês sobre esse livro difícil, doloroso, mas incrível, que se tornou uma das minhas melhores leituras do ano – e da vida.


Recomendo muito a leitura de Herdeiras do mar e espero de coração que possam dar uma chance a essa obra incrível.  Espero que tenham gostado do vídeo!


Me contem se já leram, se tem vontade de ler, se tem interesse pelo livro. Vamos conversar ok? Beijos e até o próximo post!





Autora: Mary Lynn Bracht

Editora: Paralela

Nº de Páginas: 304

Quando Hana nasceu, a Coreia já estava sob ocupação japonesa, e por isso a garota sempre foi considerada uma cidadã de segunda classe, com direitos renegados. No entanto, nada diminui o orgulho que tem de sua origem. Assim como sua mãe, Hana é uma haenyeo, ou seja, uma mulher do mar, que trabalha por conta própria seguindo uma tradição secular. Na Ilha de Jeju, onde vivem, elas são as responsáveis pelo mergulho marinho — uma atividade tão perigosa quanto lucrativa, que garante o sustento de toda a comunidade.
Como haenyeo, Hana tem independência e coragem, e não há ninguém no mundo que ela ame e proteja mais do que Emi, sua irmã sete anos mais nova. É justamente para salvar Emi de um destino cruel que Hana é capturada por um soldado japonês e enviada para a longínqua região da Manchúria.
A Segunda Guerra Mundial estava em curso e, assim como outras centenas de milhares de adolescentes coreanas, Hana se torna uma "mulher de consolo": com apenas dezesseis anos, ela é submetida a uma condição desumana em bordéis militares. Apesar de sofrer as mais inimagináveis atrocidades, Hana é resiliente e não vai desistir do sonho de reencontrar sua amada família caso sobreviva aos horrores da guerra.
Em Herdeiras do mar, Mary Lynn Bracht lança mão de uma narrativa tocante e inesquecível para jogar luz sobre um doloroso capítulo da Segunda Guerra Mundial ainda ignorado por muitos.

5 comentários:

  1. Oi Polly!!

    Eu vejo sempre a Pam falando desse livro e inclusive comprei por causa dela HAHAHAHA Ainda não li pois sempre que vejo comentários sobre, me parece ser uma leitura super densa e pesada, algo que agora não tô podendo HAHAHAHAHA
    Eu adorei as suas considerações a respeito da obra, me deu vontade de encarar a leitura mesmo não estando muito pronta!

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  2. Oi POlly, tdo bem ?
    A minha avó veio para o Brasil fugida da guerra e pelo que me lembro ela nunca tocava muito no assunto pq era algo muito terrível assim para ela de lembrar. E é engraçado que eu tenho esse horror cravado em mim.
    Claro que como vc diz tem toda a beleza da parte cultural e é algo muito maior.
    Mas lendo sua resenha, eu fiquei pensando em quão absurdo pode ser isso.
    Beijos

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  3. Oi Polly, tudo bem? Não conhecia o livro mas achei bem interessante acompanhar seu ponto de vista. Não lembro se na minha família (nos parentes mais antigos) tem algum refugiado, ou famílias que passaram por alguma guerra. Mas na cidade do meu namorado há muitos alemães, então conseguimos ter uma ideia de algumas coisas que aconteceram naquela época. Tenho também conhecidos que vieram da Itália fugidos. Creio que todas essas mudanças, desafios, sempre deixam marcas para as futuras gerações. Fico imaginando o que essas mulheres viveram, deve ter sido bem difícil. Um abraço, Érika =^.^=

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  4. Eu li esse livro na edição da tag Inéditos e foi porrada atrás de porrada... Que leitura difícil e ao mesmo tempo agregadora. Foi uma verdadeira aula de história e humanidade. Não foi só uma leitura, foi uma experiência de vida.

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  5. Oi, tudo bem?
    Eu vi muitos comentários bons sobre esse livro e parece ser uma leitura muito impactante mesmo. Acredito que não seja um livro fácil de ser lido por abordar um tema tão doloroso e pesado. Confesso que não é o tipo de leitura que estou buscando no momento, porque ando precisando de livros mais leves. Porém, tenho curiosidade de ler e sua resenha me deixou ainda mais interessada. Com certeza lerei em outro momento.
    Beijos!

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Pollyanna Campos

Mineira, apaixonada por livros, advogada, viciada em romances de época, séries e café. Ama viajar, ouvir a mesma música, ver os mesmos filmes, reler suas citações literárias favoritas e cuidar de suas plantas.




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